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[coLUna] #5: spoiler: a vida é um imprevisto!
e até esse texto aconteceu por acidente <3
No último final de semana, eu dei play em “Jane The Virgin” (1/2 team Michael, 1/2 team Rafael e 100% #VivaDeLaVega), pelo que acredito ser a terceira vez. Ah! A paz inconfundível de assistir uma série que eu sei perfeitamente como vai terminar, tim-tim por tim-tim…
Uma grande amiga já tinha me alertado sobre esse hábito – “você assiste muita coisa repetida”. Concordei. Demos risada e eu fiz questão de incluir a observação que achei pertinente: “Por que vou gastar meu tempo assistindo algo potencialmente ruim, se eu já sei que Gilmore Girls é tão bom?”. Eu sei (e desconfio que, à época, minha amiga também já sabia) que não é só sobre isso.
Gilmore Girls é mesmo uma das melhores séries já feitas e eu nunca vou me cansar de ver Don Draper bebendo seu old fashioned. Mas a calma que tudo isso desperta em mim vem de um lugar comum, que talvez você reconheça, mesmo sem nunca ter assistido nenhuma das minhas séries favoritas.

O conhecido encontra lugar no lado da minha mente que quer prever todos os cenários, na tentativa quase ridícula de controlar o mundo inteiro, como se a vida estivesse sempre ao alcance das minhas mãos (e dependesse delas). Aquilo que já conhecemos é seguro e nos poupa da insegurança das sensações novas.
É por isso que, do lado de cá, eu me qualifico como fã declarada de spoilers e, de vez em quando, não resisto a pesquisar os desfechos de algo que ainda estou começando. Em paralelo, é só desligar as telas para me deparar com a realidade, ao mesmo tempo cruel e maravilhosa, de que o roteirista da vida real não segue regra nenhuma e não tem nem meio compromisso com o script original – aquele que eu mesma escrevi certo por linhas retas, sem espaço para as linhas tortas (escritas por Deus, pelo destino ou por aquilo que você acreditar por aí).
No mundo de cá, a vida é um gênero próprio. Cabe comédia, drama, novela mexicana e terror no mesmo dia – e às vezes em um intervalo de horas. O imprevisível não descansa e não tem season finale que acalme o coração: a vida é um imprevisto.
O médico que cancela a consulta depois que você organizou a agenda; o trabalho que não é nada daquilo que você sonhou; o computador que estragou; o ovo que você esqueceu de comprar para o café da manhã; o fim de uma amizade; a blusa que está lavando no dia daquele aniversário especial; um divórcio; a rua que não está sinalizada como contramão; a perda de uma pessoa amada.
Viver é desconstruir os planos de vida que passamos anos construindo. É fazer as pazes com os reajustes de rota que acontecem hora em hora. Atravessar as fantasias para encontrar versões menos calculadas, mas mais verdadeiras daquilo que sobrou (e somou) de nós depois das reviravoltas inesperadas, sejam elas boas ou apenas importantes.
É aceitar que, imagina!!!!, até os outros personagens têm vontade própria: os diálogos para os quais já existem respostas prontas ficam restritos à imaginação (e, no meu mundo, aos quarenta minutos que gasto durante o banho pensando na vida). O outro também não é o que a gente imaginou que ele fosse e é preciso, mais uma vez, “reconfigurar as fantasias”.
Para a coLUna dessa semana, queria escrever sobre outra coisa. Sobre algo fabuloso, sobre as crônicas de Fernando Sabino que eu tanto amava ou sobre a nova editora-chefe da Vogue. Mas veio a surpresa.
Sou uma pessoa real, com sentimentos e percepções que vão além das minhas idealizações. E foi na conexão entre reassistir uma série que eu amo e a frustração de não cumprir as tarefas do meu planner que encontrei inspiração.

Fonte: Pinterest
Resolvi me abrir àquilo que não imaginei (e nem tentei imaginar). Não sabia aonde minhas palavras me levariam, mas cheguei até aqui, isso é, até a conclusão de que há, também, beleza no imprevisto.
Do outro lado dos cálculos e antes dos finais felizes, há um caminho inesperado que pode, também, abrir uma porta que você nem sabia que precisava entrar. Toc-toc, acho que vou dar uma chance a essa.

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