[milebooks #2]: Toda leitura é válida?

Eu ainda escolho ler sem culpa

Em agosto aconteceu a 3° edição do Encha Seu Kindle, organizado pela Íris, do Divulga Nacional. Houveram muitos comentários de crítica ao evento nas redes sociais que fizeram com que eu parasse para refletir sobre como as pessoas enxergam livros nacionais, principalmente de romance. O evento consiste em um dia inteiro em que diversos ebooks ficam gratuitos ou em promoção e é possível pegar quantos quiser, só tendo uma conta da Amazon. Mais de 12 mil ebooks participaram, quase o dobro do ano passado.

Meu gosto literário é diverso. Leio fantasia, romance, suspense, etc. Porém, confesso que não sou muito adepta dos com capa de homem sem camisa, “O Ceo e a Fulaninha”, dark romance, que é a maior parte dos livros participantes. Não dá para negar isso. Só que, galera, DOZE MIL EBOOKS! Impossível não achar UM que agradasse seu gosto, né? Os twitteiros, que provavelmente nem abriram a Amazon, disseram que não acharam nada de bom. Participei das três edições e consegui quase 600 ebooks gratuitamente. Cheguei a isso abrindo a página do evento e garimpei. E, para quem não quisesse ter trabalho, a Íris filtrou os livros por gênero, em promoção e/ou gratuitos na Amazon. Você podia parar para ver só os que te interessassem. Por isso, me choca as falas de que o evento só tinha uma opção. Será que só não se deram ao trabalho de procurar?

Isso tudo me fez lembrar que há um tempo as pessoas, principalmente os homens, começaram a criticar mulheres leitoras de livros com romances farofas e hot. Com falas de “Isso não pode ser considerado uma leitura válida” até “Mulheres estão lendo pornô”. A crítica se valia de que os livros não têm profundidade, não agregam valor sociocultural a quem lê e se resumem a sexo. Mas será que essa é a melhor abordagem para aproximar as pessoas de“clássicos”? Será que no mundo que estamos vivendo, em que adolescentes têm 12h de tempo dela e estão saindo delas para ler, é válida essa crítica? Será que quem critica tem autoridade para ditar o que socializa e/ou agrega valor a alguém? E será que estão lendo o suficiente para criticar leitoras?

Outra reflexão foi: será que precisamos ser o tempo todo produtivos? Porque nessa lógica de que ler tem que ser algo agregador, exclui a possibilidade de isso ser apenas um hobby. A lógica capitalista emprega que nosso corpo precisa estar sempre em constante movimento, seja físico ou mental. Como leitora, gosto das duas abordagens. Leio livros que vão me ensinar algo e que vão acrescentar na minha bagagem cultural. Mas, têm dias em que a minha rotina corrida de gerir uma faculdade, estágio, casa e vida social, pedem apenas um romance bobinho com casal fofo e final feliz. É bom lembrar que precisamos de fontes de divertimento. Que desligar um pouco e focar em coisa fútil, como um livro de romance, não vai te fazer ser uma completa idiota, sem senso crítico. E assim, não sei vocês, mas consigo interpretar um texto bem o suficiente para tirar coisas boas e importantes de um livro de romance, por mais “bobo” que seja.

Dito tudo isso, trago aqui dois livros que: peguei no Encha Seu Kindle para quem disse que não achou nada de bom; farofas, para quem não liga para essa bobeira de “ai isso não agrega em nada”; e mais “cults”, para quem quer dar uma variada nas leituras!

Sem trapaça

Romena Fontoura é a futura duquesa do país de Bevelle. Meia bevelliana e meia brasileira. Seu jeito reservado, faz ela ser alvo de uma aposta entre os jovens da aristocracia, durante as férias deles no Brasil. Príncipe Devin Goulart, é o encarregado de cumprir a aposta. Ele tem que conquistar Romena. Porém, os almofadinhas não contavam com união dos dois para ganhar dos “amigos”. Juntos, aproveitam para viver as férias mais divertidas e fofas. Como boa comédia romântica, o romance falso acaba se tornando algo incontrolável… 

Sabe aquele livro com gosto de Sessão da Tarde? Aquele romance ambientado nos anos 2000 leve, que te deixa com frio na barriga e dando gritinhos de felicidade com o desenvolvimento? Temos aqui! Toda essa energia meio O diário da princesa e Um príncipe na minha vida, me encantaram demais. Fiquei apaixonada pela leitura incrivelmente fluída e tranquila. O romance é gostoso e faz você se cativar pelos personagens. Além da história não ser nada convencional, ela é super engraçada e contagiante.

É por isso que eu indico Sem trapaça, de Englantine.

Até logo, Violeta

Tudo que sabe sobre amor, Violeta aprendeu com Liz, seu amor da juventude. Porém, isso não foi suficiente para manter a relação. 50 anos depois, isso ainda é a lembrança mais linda e doída da vida de Violeta. Uma viajante do tempo, que veio de um futuro distante, atracou no quintal de Vilu. Com a viajante, ela começa a revisitar memórias que estavam guardadas bem fechadinhas em seu medalhão. E é assim, que recebe uma segunda chance do tempo para amar.

Se está em busca de um livro para te fazer soluçar de tanto chorar, acabou de achar o perfeito! Estava prestes a terminar a leitura e percebi que iria começar a chorar no meio do metrô, por isso guardei o Kindle para acabar em casa. Não deu outra, chorei tanto, que fui dormir com dor de cabeça e nariz entupido. Fiquei fissurada com o livro, que achava que era só um romance e me entregou amor, sacrifício, representatividade negra e lgbtqiapn+ variada e viagem no tempo. O final, minhas amigas, VOCÊS NÃO ESTÃO PREPARADAS! Maria te dá afago, para em seguida te dar uma porrada e deixar claro que não dá para se ter tudo, mesmo em um romance. 

É por isso que eu indico Até logo, Violeta, de Maria Freitas.

Aprendendo a fingir

Aqui conhecemos Athalia Pressley, que perdeu os pais aos 15 anos e sua única família é o irmão gêmeo, Henry. Porém, o irmão se fechou completamente depois da morte dos pais. Por isso, Athalia vê a oportunidade perfeita para ganhar a atenção do irmão, quando se vê obrigada a fazer aulas de monitoria com Dylan McCarthy, a pessoa que Henry mais odeia na face da terra. Ela propõe a McCarthy um namoro falso por três meses. Mesmo odiando Athalia, Dylan decide aceitar. Um namoro com direito a beijão em público e contrato com regras muito rígidas sobre o comportamento deles. Com o tempo, fingir fica muito difícil e os sentimentos passam a se misturar.

Comecei esse porque estava em um desses momentos de ler um livro mais farofa. E ele me entregou exatamente isso. Sou fã de carteirinha de fake dating e enemies to lovers, logo, fui facilmente comprada com a presença dos dois. É bem clichêzinho, te faz dar boas risadas e torcer para os dois idiotas perceberem que se gostam logo. O jeitinho implicante do Dylan me pegou demaaaais! Ele assina os e-mails que trocam com “desatenciosamente”, “com os piores cumprimentos”, “desrespeitosamente”, etc. Além de levar uma rosa por dia para ela durante uma semana, mesmo sabendo que é a flor que ela menos gosta. Ao mesmo tempo que tem atitudes super fofas, que te deixam suspirando de emoção. Amei esse romance morde e assopra!

É por isso que eu indico Aprendendo a fingir, de Selina Mae.

Então bom Natal: e ano novo também!

Martha, que está pronta para curtir o Natal, quando fica presa no elevador com o cara mais ranzinza do escritório, Luiz. A convivência forçada, chocotones e vinho fazem os dois se aproximarem; Laura está chateada por não conseguir ter seu Natal perfeito. Mas quando Gael, funcionário do resort onde a família está hospedada, dá um choque de realidade nela e muda sua visão, Laura se abre para a experiência e vive o melhor feriado de sua vida; Olívia é obcecada por Natal e pela ideia de encontrar o amor na data. Neste Natal, ela recebeu um sinal de quem pode ser esse amor, então começa a se envolver em um monte de confusões para encontrar o tal cara; Por fim, temos Joline, mãe solteira, se permitindo viver uma noite para si, no último dia do ano. 

Quem me conhece sabe que sou obcecada por tudo que envolve o Natal! Acredito sim, na magia que envolve o feriado. “Ah, mas é uma data comercial, criada pelo capitalismo”. Sim, também é, mas isso não apaga o simbolismo da data, as boas memórias que criamos, as tradições e rituais. Por isso, amei cada momento deste livro! Os personagens são apaixonantes. Ele ser nacional me deixou ainda mais feliz, porque esse Natal tem cara de Brasil. A história final foi a única que não me alcançou. No todo, valeu a pena para ver o desenrolar de cada uma das outras histórias!

É por isso que eu indico Então bom Natal: e ano novo também!, de Gabriela Santos, Daniela Dias, Pollyana Cuel e Victoria Singui.

Torto arado

No sertão baiano, vivem as irmãs Bibiana e Belonísia. Um dia, como boas crianças enxeridas, elas encontram um facão na mala guardada embaixo da cama da vó. Um acidente acontece. Isso as liga de uma tal maneira, em que uma precisa ser a voz da outra. A trama, dividida brilhantemente em três momentos narrativos, é melodiosa e conta uma história de vida e morte. Acompanhamos as irmãs de sua infância até a fase adulta, se descobrindo, casando, amando, lutando e resistindo.

Apesar de já ter ouvido elogios, roubei da estante do meu sogro (meu fornecedor de livros gratuítos) e fui ler sem saber muito do que se tratava. Fiquei completamente obcecada por essa história! A união das irmãs, as relações famíliares que as rodeavam, o sincretismo tão presente na realidade dos brasileiros, TUDO TÃO PERFEITO!

Ele é tão mágico, quanto real. Perfeitamente balanceado com o cotidiano dos personagens. Fui instigada em todos os sentidos a ler cada página, por querer saber mais, descobrir segredos, finais. Cada personagem foi incrivelmente bem desenvolvido! Fofoca, talaricagem, amor, religião e espiritualidade, luta de classes, violência doméstica, negritude, assassinato e mais, que vão te assustar, ao mesmo que te encantam.

É por isso que eu indico Torto Arado, de Itamar Vieira Junior.

Eu não sei quem você é

Jules e Holly são melhores amigas desde a faculdade. Compartilham tudo, desde detalhes do cotidiano, até o momento de luto que Holly passou, até quando Jules traiu o marido.  Holly é mãe de Saul e Jules de Saffie. Os dois cresceram juntos. Quando Saffie acusa Saul de a ter estuprado, abala a vida e a amizade das mães. Holly, ativista dos direitos das mulheres e lidera uma campanha de “Não é não”, na faculdade em que dá aula, se vê desacreditada de que seu filhinho poderia ter feito algo assim. Em quem acreditar? No filho que criou? Na amiga e na sua ‘filha especial’? Essa rede de desconfiança abala, totalmente, a vida de todos ao redor.

Mais um roubado da estante de meu sogro. Estava procurando algo para ler e amei a sinopse! Fiquei intrigada em como a autora iria desenvolver um assunto tão sério. Fui surpreendida com um dos melhores livros do meu ano! Penny foi bem fundo no emocional de duas mães desesperadas para cuidar dos filhos. Foi muito interessante como a denúncia trouxe à tona segredos, um outro eu de cada personagem e os problemas que já estavam ali pairando sobre todas as relações. É fácil tomar partido de qualquer um dos lados. No fim, é entendível todas as decisões de cada um dos personagens, os finais geram empatia dos leitores (menos de um filha da mãe que eu queria o pior para ele, rs). Mas que leitura fantástica!

É por isso que eu indico Eu não sei quem você é, de Penny Hancock.

De: Milebooks

Para: Amiga literária

Reply

or to participate.