10 obras para ler, ouvir e assistir no Dia da Consciência Negra!

Em pleno feriado, tiramos um tempinho para pensar em momentos da cultura pop que marcaram nossa vida enquanto mulheres pretas!

Hoje, a gente celebra um feriado super importante: o Dia da Consciência Negra. Pensando no nosso mundinho pop, o Team Zélia resolveu falar sobre reconhecer quem abriu caminhos. No dia de hoje, muito mais do que falar sobre a importância de abrir espaços, é momento de celebrar quem brilha agora e ressaltar a importância de consumir cultura feita por pessoas pretas não só em novembro, mas o ano inteiro 🤎✨ Por isso, separamos uma listinha de livros, filmes, séries e álbuns que tem lugar especial no nosso coração!

No decorrer da minha vida de leitora aprendi a me colocar no lugar do personagem que estou lendo sobre a vida, aprendi a sentir as emoções e entender suas razões. Em contrapartida, nunca consegui me enxergar nas histórias que lia. Nada cabia ao meu cotidiano de menina preta, periférica e bissexual. Eu não entendia os motivos de me enxergar ali, de não ter protagonistas com a mesma vivência que a minha, fazendo um coque frouxo com um cabelo crespo/cacheado, namorando e desejando meninos pretos, entre outras mil coisas. Só que eu não conseguia nem entender o que era esse sentimento de falta das histórias de romance, das quais sempre gostei mais. Foi uma longa trajetória até enxergar o problema e começar a consumir livros com pessoas negras no centro da história.

Milena Silva

NA MINHA PELE

O primeiro passo veio quando li “Na minha pele”, do grandioso Lázaro Ramos! Este é o livro que me abriu os olhos para todo racismo, que é escancarado e ao mesmo tempo tão velado, nos meios de comunicação. E que o motivo de eu nunca me enxergar neste lugar de protagonismo, é porque simplesmente a escrita de pessoas pretas não era publicada, era desencorajada a sequer ser escrita e era tido como algo não necessário e que não venderia. 

As únicas histórias para pessoas pretas eram de melhor amiga da protagonista, empregada, escravizada e todas as outras opções de subalternidade. Lázaro se debruça em temas muito profundos, como descriminação, empoderamento, afetividade, entre outros, de uma maneira linda e didática. Indico este, pois acho que é um ótimo ponto de partida para quem não consegue entender e enxergar o que está errado, assim como eu.

Imagem: Amazon | Reprodução

OLHOS D’ÁGUA

Meu encontro com “Olhos D’água”, de Conceição Evaristo, foi algo inexplicavelmente preciso. Li logo depois de acordar para a vida e perceber essas faltas na literatura. Ler algo com o qual eu me identificava tanto, que eram histórias palpáveis ao meu cotidiano, pessoas parecidas comigo sendo descritas, mudou o rumo da minha vida. Me emocionei do primeiro ao último conto. É visceral a escrita desta senhora! Ela te toca em pontos sensíveis, te abraça e te acalenta como uma avó nina seu neto e desperta em você um senso de pertencimento incrível.

Neste livro encontramos a histórias de mães em sua maioria. Mas Conceição faz questão de nos lembrar que elas também são filhas, são mulheres, avós, amantes. Que passam por dilemas sociais, sexuais, que questionam a existencialidade. São histórias plurais, de amor, de vida, de dor, de tristeza. Sem meias palavras, romantização, sentimentalismo. Tudo nu e cru, como é a vida. A dura realidade de pessoas negras no Brasil descritas como elas são!

Imagem: Amazon | Reprodução

BLACKOUT

Quem me conhece já ouviu pelo menos uma vez sobre este livro. Angie Thomas, uma das minhas autoras favoritas, me apresentou a escrita de outras cinco mulheres negras incríveis e me fez sentir que sim, o amor também brilha no escuro. 6 histórias de amor diversas são contadas aqui, jovens negros, homens e mulheres, encontros e desencontros, amigos e inimigos. Elas me mostraram que o amor preto pode salvar. Que é possível contar a histórias de pessoas negras pode ser contada e contada de uma forma linda e simples, sem envolver violência, dor, racismo e por aí vai. Que podem ocupar o lugar de destaque dos livros!

Uma onda de calor causa um apagão em Nova York. A cidade para. Conforme o sol se põe e o breu toma conta da cidade, seis casais ganham luz. Ex-namorados forçados a conviverem e deixar o ressentimento de lado para se ajudar. Dois garotos escondidos sob máscaras. Um primeiro encontro ao acaso. Amigos de longa data descobrindo novos sentimentos (ou não tão novos assim). Duas garotas em um encontro arranjado. Um namoro repleto de dúvidas. Relacionamentos se transformam, o amor desperta e novas possibilidades surgem e uma festa a céu aberto une todos!

Imagem: Amazon | Reprodução

O AVESSO DA PELE

Este, lido no início deste ano, mudou um pouco o rumo da minha vida. A escrita de Jeferson Tenório deixou tudo ainda mais sensível. É apenas um filho poeticamente contando sobre a vida de sua família, registrando aquilo que durante séculos nos foi tirado. Memória. Pedro está tentando encontrar quem foi seu pai, cavando a existência e a vivência de um pai que por mais presente que foi, deixou lacunas de quem era.

Com uma narrativa sensível e brutal na mesma medida, Tenório escancara as feridas do racismo do país em que vivemos e desbrava as problemáticas do sistema educacional brasileiro. Um relato denso sobre relações. Pais e filhos, amorosa, professores e alunos e por aí vai. O que está em jogo é a vida de um homem abalado pelas inevitáveis fraturas existenciais da sua condição de negro em um país racista, um processo de dor, de acerto de contas, mas também de redenção, superação e liberdade.

Imagem: Amazon | Reprodução

EXTRAS! ⭐️ 

“Entre guirlandas e all stars”, de Mary Dionísio: este foi o primeiro livro sáfico com uma protagonista negra na vida! Mary, como indicou em sua dedicatória, fez deste livro um lugar seguro para garotas que tiveram que chamar seu amor, de amiga.

“Filhos de sangue e osso”, de Tomi Adeyeme: o primeiro livro de fantasia com protagonismo negro e com temática Iorubá, em que a autora veio para Salvador estudar sobre.

“Pacto da branquitude”, de Cida Bento: Este me abriu os olhos para como o racismo vai muito além do que só discriminação direta e indireta. Esclareceu muitas coisas da minha vivência enquanto menina negra em meios muito brancos! 

Eu acho que um dos momentos que me tornou uma apaixonada por cultura pop foi quando eu assisti “Hairspray” aos 9 anos. Era uma montagem universitária - da faculdade do meu primo Richard, que me levou para assistir. Eu passei cada intervalo da peça e cada troca de cenário falando o quanto eu estava amando tudo aquilo (num nível que os atores, amigos do meu primo, ouviram lá do camarim). E desde então, “Hairspray” teve um espaço especial guardado no meu coração. Eu acho que a principal lição que eu tive dessa história é que a gente não nota o quanto a representatividade faz falta, até que você tem ela. Mais do que ser imersa no teatro, eu fui imersa na história de resistência preta que aparecia no palco. E desde então, eu descobri que, de pedacinho em pedacinho da cultura, a gente muda o mundo!

Marcela Elis

HAIRSPRAY

E já que falamos dele: eu confesso que tenho algumas ressalvas quanto ao plot de “Hairspray”! Mas um clássico é um clássico e, no fim do dia, ele consegue ser um musical bemmm didático pra quem tem 0 noção de debate racial. O musical conta a história da Tracy, uma adolescente que sonha dançar em um programa de TV local. Para isso, ela desafia preconceitos sociais e padrões de beleza, lutando por igualdade e integração racial, enquanto persegue seus próprios sonhos. Mas, para mim, a cherry on top é ESSA música - e especificamente a versão interpretada pela Queen Latifah - que acontece durante uma cena de um protesto contra a segregação racial. Daquelas de chorar e ouvir várias vezes!

SINNERS

Claro que o filme do momento não poderia ficar de fora! “Sinners” é o Oscar winner nos meus sonhos. Nele, a gente acompanha os gêmeos Fumaça e Fuligem, que voltam para sua cidade natal para abrir um clube noturno onde a comunidade negra pode se reunir. Com ajuda do seu primo Sammie, eles tem uma noite mágica - com direito a uma cena de portais se abrindo que me deixou ARREPIADA - que acaba chamando atenção de vampiros (que, no filme, representam a exploração, a violência e a apropriação da música e da cultura negra).

Imagem: Pinterest | Reprodução

GAROTA DO MOMENTO

Eu ando na minha skin noveleira total! E “Garota do Momento” simplesmente ganhou o meu coração desde o primeiro episódio. Nela, a gente acompanha a Beatriz (Duda Santos), uma jovem que acredita ter sido abandonada na infância. Ela se muda para o Rio de Janeiro para reencontrar a mãe, mas descobre que, após um grave acidente, Clarice sofreu amnésia e foi levada a acreditar que sua filha é outra jovem, chamada Bia (Maisa). Durante a novela, o enredo explora a jornada de Beatriz ao se tornar uma modelo e garota-propaganda de uma marca de sabonetes, desafiando os padrões da época! O ponto sensível, para mi, foi ver as religiões de matriz africana e as histórias dos Orixás aparecendo nas TVs brasileiras!

Imagem: Pinterest | Reprodução

DENDEZEIRO - “LEI DA VADIAGEM”

Como uma boa fashion girl e fã de carteirinha da DDZ, eu não podia deixar de recomendar esse desfile que eu vi de pertinho. Na edição 3 de “BRASILIANO”, nossa dupla baiana favorita fala sobre a “Lei da Vadiagem”, mergulhando nos bailes blacks dos anos 70! A nossa resenha completa do desfile você confere aqui. Mas o meu veredito, que quase ninguém sabe (e esse segredo fica entre nós!), é que assim que eu saí da sala de desfile eu comecei a chorar. Crescer como uma garotinha que amava moda sempre veio com o combo “entender que eu não faço parte desse mundo”. Quantas jornalistas de moda pretas você conhece? Por isso, a DDZ entra na minha lista não só pela roupas impecáveis mas pelo sentimento de quem teve o oportunidade de cobrir de pertinho - e de sentir que encontrou seu lugar!

Fotos: Danilo Grimaldi/ @agfotosite

Pausa na leitura para ouvir um conselho de Tasha e Tracie! 🖐️ 

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“CAJU” - LINIKER

Para encerrar esse post, como uma apaixonada por música, eu fiquei MUITO em dúvida de qual álbum colocar. As minhas escolhas foram de Racionais até Beyoncé - que simplesmente dispensam apresentações quando o assunto são figuras musicais importantes no ativismo negro - mas eu resolvi ir com uma escolha que todo mundo já ouviu. Não tem como fugir de Caju. A Liniker invadiu nossos fones de ouvidos, nossos rádios, o Grammy Latino e, principalmente, nossos corações. Mas será que você realmente ouviu Caju? Você ouvir de coração aberto? Você entende que os versos da Liniker são muito mais do que alguém que “só” quer ser amada? Eles são versos de uma mulher trans e preta que entendeu que ela merece amor. Ouvir “Caju” foi quase como cutucar uma ferida aberta. Liniker me fez perceber que todo mundo merece alguém que corra até o aeroporto. Por isso, minha última indicação é que você ouça e enxergue Caju, com o coração, do jeitinho que o álbum merece!

Imagem: Pinterest | Reprodução

Leia também: As rimas das minas!

EXTRA: “AMORAS” - EMICIDA

Eu posso não ser nível Milebooks de recomendação de livros, mas esse não podia ficar de fora! Se você tem uma criança preta no seu convívio, é sua obrigação comprar “Amoras” - e chorar na hora da leiturinha (baseado em fatos reais).

Imagem: Amazon | Reprodução

p.s. o feat de milhões desse post foi um dos momentos mais aguardados na News da Zelia!

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